quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Reencontro


O rosto de mulher madura incendiou-se a vê-lo. Os traços vincados que lhe percorriam a pele do rosto, ainda firme, e que contavam a historia das estradas que percorrera, das paixões que vivera, das lágrimas que derramara, atenuaram-se como um suave desfolhar de um botão de rosa.
A musica acordava-lhe o corpo. O ritmo, as luzes da noite, os sons conhecidos do prazer nocturno despertavam-lhe as memórias e o coração. Sorriu para os companheiros e levantou-se, jogando o xaile para o lado. Bateram palmas para ela, incentivando à loucura.
Rodou, moveu as ancas com a leveza de uma jovem, fechou os olhos e deixou-se levar para os céus, enquanto o seu corpo permanecia no êxtase do movimento.
Num canto, ele observava. O cabelo grisalho nas têmporas, ainda era suficientemente grande para a olhar sem o dar a entender. Há quanto tempo... e, no entanto, nunca lhe parecera tão apetecível como naquele momento. A idade não tinha passado. Porque não tinham ficado juntos? Não conseguia lembrar-se, era a verdade...
Não se arrependia das suas escolhas, nem do que fora ao longo do tempo. Sabia que escolhera bem, quando a escolha não fora ela. Como a queria, naquele momento?
Através das pestanas negras, ela levantou o olhar claro para o seu rosto, não deixando de dançar. E ele sorriu. Aquilo já acontecera antes! Ela também o entendeu e deitou a cabeça para trás. Era uma dança conhecida, e ambos sabiam como iria acabar.
Foi ela quem se aproximou, lentamente, por meio de passos de dança, como se não fosse ele o seu destino. Ele agarrou-lhe a cintura e sentiu-se feliz. Pura e simplesmente feliz, seria assim tão simples? Sentiu-lhe o toque no rosto, lento, quente, apaixonado. Beijou-lhe a mão que o tocava.
- Vem cá... - a voz enrouquecida -la aconchegar-se mais ao seu corpo, colando-se com simplicidade.
- Irei sempre... - foi a resposta.
Beijou-a. Como da primeira vez, com firmeza, mas a medo. E, como da primeira vez, os braços dela enroscaram-se no seu pescoço e ela puxou-o para si, com um suspiro. Como se tivesse ansiado aquele beijo a vida inteira. Poderia o universo ser tão perfeito?
Desta vez dedicou-se a beijá-la vezes e vezes sem conta, sem pressas... os anos tinham passado, mas na verdade, nunca tinham tido tanto tempo pela frente...

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